18 de set. de 2013

Mulheres e Moradia - A necessidade de unificar as lutas!



Lígia Gomes

No dia 14/9 pela manhã fomos ao Ato contra o Estatuto do Nascituro no ABC. Foi um ato chamado por organizações feministas, movimentos de mulheres, sindicatos e outras organizações e contou com cerca de 150 pessoas. 
Além das organizações que vinham construindo essa ação, vieram ao ponto de encontro um grupo de moradores do Jd. Silvina que estão sendo ameaçados de despejo e lutam por moradia. O objetivo desses manifestantes era denunciar as situações de abuso e precariedade por que vem passando e conseguir mais apoio para sua luta.
No entanto, encontraram o oposto. Algumas manifestantes ligadas ao PT e ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ao ver que a denúncia recaía sobre o prefeito Luiz Marinho (PT),  não pensaram duas vezes e tentaram expulsar as lutadoras e lutadores do Jd. Silvina. Contavam para isso com seu próprio grupo de seguranças, mas também com a Polícia Militar, que chegou a chamar reforços e estava fortemente armada. Os moradores do Jd. Silvina, que ficaram então sob ameaça dos seguranças da CUT e da PM.
Aquelas que pretendiam expulsar os que levaram ao ato sua luta por moradia justificaram-se dizendo que “existe uma pauta concreta, que é contra o Estatuto do Nascituro, que é pela vida, autonomia e direito das mulheres. Não podemos permitir que parasitem a nossa pauta” (Bruna Gonçalves em entrevista ao ABCDMaior de 14/09/2013). Elas parecem ter se esquecido que a luta por moradia digna também é uma luta das mulheres,  que a falta de condições de habitação adequada afeta mais as mulheres porque ainda é sobre elas que recai a responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos, porque são elas que recebem os menores salários e que frequentemente têm responsabilidade exclusiva sobre a família, e, já que estamos falando do Bolsa Estupro, porque são elas que, morando em condições precárias, em bairros sem iluminação e segurança e dependendo de transporte público correm mais risco de ser estupradas.
Assim, em vez de unificar as lutas e fortalecer ambas, preferiram defender o governo do PT e evidenciaram que cada vez mais a parte que lhes cabe nas manifestações de rua é impedi-las ou ser atropelado por elas.
Diferentemente das dirigentes da CUT e do PT, eu e outras ativistas de organizações independentes dos governos e dos patrões, com o PSTU, o Movimento Mulheres em Luta (MML) e a Assembleia Nacional dos Estudantes- Livre (ANEL) defendemos a permanência dos lutadores do Jardim Silvina no ato, incorporamos suas bandeiras e saímos em caminhada com eles pelo centro de São Bernardo após o ato contra o Estatuto do Nascituro.


A Luta por moradia
Quem me explicou a luta os moradores do Jd. Silvina foi Elaine, reconhecida por todos como sua líder e, de fato, uma mulher muito guerreira. Ela afirmou que eles estão ameaçados de despejo e que já tiveram alguns de seus companheiros despejados são trabalhadores cuja renda não permite sequer o financiamento de imóveis pelo programa Minha Casa minha Vida do governo federal e cuja sobrevivência tem sido ameaçada pelo aumento do preço dos aluguéis.
Com muito esforço, compraram imóveis públicos disponibilizados por meio de programas habitacionais, pois foi a única opção que encontraram. A resposta do Prefeito Luiz Marinho, foi rápida, em abril desse ano promulgou a lei 6.213/13 que autoriza a retomada dos imóveis pela prefeitura sem prever qualquer alternativa para as famílias a serem removidas.
O déficit habitacional em nossa cidade é de mais de 100 mil famílias, no ABC são mais de 150 mil e o prefeito no primeiro mandato entregou 3.200 novas casas e segue no mesmo ritmo atualmente. Ou seja, se depender da prefeitura vamos levar mais de 30 anos para chegar próximo de zerar o déficit habitacional, e as famílias do Jd. Silvina não podem esperar tanto tempo assim.
Além de não priorizar a construção de moradias populares, a regularização e melhoria dos bairros periféricos, a política de planejamento urbano Luiz Marinho para a nossa cidade segue as mesmas linhas gerais que é seguida em praticamente qualquer cidade brasileira, seja governada pelo PT, pelo PSDB ou qualquer outro partido. Os proprietários e empresas do setor imobiliário e da construção civil tomam conta do planejamento urbano e o moldam de acordo com seus interesses. Maior exemplo disso são os condomínios de luxo caríssimos, acessíveis a pouquíssimos abastados, com duas ou três vagas de garagem por apartamento lançados ao lado do terminal São Bernardo, no centro da cidade, região que conta com sistema de trólebus para transporte público e que já enfrenta problema crônico de trânsito. Uma política habitacional com um mínimo de coerência e incentivaria a moradia no centro da cidade e por isso teria imóveis a preços acessíveis, mas sem garagem, para aumentar a fluidez do trânsito.
Os resultados todo mundo já percebeu. Aluguéis nas alturas e preços dos imóveis dobrando ou triplicando, tornando mais difícil a vida dos trabalhadores, que fazem dívidas cada vez maiores para comprar ou alugar um imóvel. No entanto, os empresários da construção civil e os especuladores (aqueles que compram imóveis para revender ou alugar, enfim, para viver da renda dos imóveis) têm feito a festa!
Assim, Luiz Marinho é culpado duas vezes pela situação dos moradores do Jd. Silvina. Primeiro pela truculência com que tem atuado em relação às famílias, segundo porque sua política habitacional só faz agravar o problema da falta de moradias na cidade.

Lutar não é problema de polícia!
A marca de todo esse processo que relatamos é que, para os lutadores do Jd. Silvina, a polícia não representa segurança, mas repressão.
As ações de despejo são violentas e degradantes. Eles deram exemplos de pessoas que tiveram suas coisas retiradas dos apartamentos e nunca mais encontraram nada. Perderam a casa e perderam tudo. E outros casos, antes do despejo a polícia fez questão de jogar o arroz e feijão no chão, porque não bastava tirar a moradia, era necessário tirar o mais básico para a subsistência, jogar a comida no chão e humilhar, tirar a dignidade. Também apontaram que os despejos não são todos de uma vez, são um a um, de modo a deixar todos inseguros o tempo todo, e dificultar a organização dos despejados.
No ato do dia 14, ficou claro que a PM estava no local para garantir um ato que não atingisse o prefeito Luiz Marinho. Ameaçaram prender uma ativista do MML que denunciava os seguranças da CUT que tentavam agredir as mulheres do Jardim Silvina. E nós que estivemos no ato do dia 1º de julho em São Bernardo lembramos que a PM não hesita em usar todo o seu potencial repressor contra aqueles que lutam, mesmo que isso implique em um banho de gás lacrimogênio, mesmo que não haja ameaça, mesmo que a luta seja justa. O importante é manter a ordem.

Por tudo isso o PSTU ABC defende:
·         Pelo fim da Criminalização dos movimentos sociais.
·         Unidade de todas as organizações de trabalhadores, estudantes e bairros na luta contra o Estatuto do Nascituro e por moradia digna para todo trabalhador.
·         Trabalhadoras, estudantes e feministas, precisamos romper com o governo e unificar as lutas para avançar!
·         Por moradias a preços acessíveis para todo trabalhador!

Saiba mais:
A privatização das cidades e a “crise urbana” - matéria do site do PSTU Nacional
Famílias tentam evitar despejo em São Bernardo – Matéria do Diário do Grande ABC